11 de dezembro de 2015

Eu comecei a minha sessão de terapia chorando e, quando sai de lá e andei para longe, eu chorei de novo.

Eu coloquei os fones e fui para casa escutando música, eu queria tapar a boca dos meus pensamentos que não paravam de falar e me faziam chorar. Eu consegui parar de chorar.

Eu cheguei em casa e me ocupei, tentei não ficar sozinha comigo mesma e consegui. Eu não queria chorar.

Eu fui dormir, porque tinha sono e não queria chorar.

Eu não chorei, mas também não tive um sono bom. Acordei querendo que tudo tivesse sido um engano. Não foi.

Não há fuga que suma com algo que fez parte da sua história, é o que aprendi hoje às 5h40 de uma manhã.

25 de outubro de 2015

Evitar um coração

"... estou apenas começando a entender - não escolhemos nosso próprio coração. Não temos como nos forçar a querer o que é bom para nós ou o que é bom para outras pessoas. Não escolhemos ser as pessoas que somos."


Mas eu queria, como eu queria escolher quem eu sou, como é meu coração, como são meus sentimentos mais vergonhosos, minhas inseguranças mais pequenas, minha estupidez em chorar escondida enquanto tomo banho. Como eu queria escolher plenamente quem sou, escolher em ser a melhor pessoa, a pessoa certa.



"Não se trata de aparências externas, mas de significado interno. Uma grandeza no mundo, mas não do mundo, uma grandeza que o mundo não entende. Aquele primeiro vislumbre de alteridade pura, em cuja presença você floresce mais e mais e mais. 

Um eu que não se quer. Um coração que não se pode evitar."


Mas eu gostaria de evitar, muitas vezes gostaria de evitar meu coração.

*Trechos do livro O Pintassilgo, de Donna Tartt.

8 de outubro de 2015

De tempos em tempos

De tempos em tempos eu me sinto uma pessoa péssima, me sinto pequena, me sinto menor, um pouco errado além do tolerável. 

De tempos em tempos eu crio pra mim mesma uma espécie de lista mental de coisas que não posso falar ou fazer, porque não quero chatear as pessoas.

De tempos em tempos eu chateio as pessoas, porque não consegui manter a lista.

De tempos em tempos eu confio que vou conseguir deixar velhos hábitos para trás.

De tempos em tempos eu repito velhos hábitos.

De tempos em tempos eu não gosto de mim e me esforço para gostar.

De tempos em tempos eu gosto de mim, até fazer algo que me sinta pequena de novo.

De tempos em tempos eu escrevo aqui, porque é um espaço pequeno, como as vezes me sinto e porque é compartilhado com um grupo pequeno, no qual não tenho medo de me mostrar pequena, ainda que seja apenas uma sensação igualmente pequena.

Tudo muito pequeno.

4 de outubro de 2015

Eu descobri que existe um jeito errado de amar e descobri que eu não sei fazer do jeito certo.

E absolutamente não sei o que fazer, porque, embora certas mudanças sejam possíveis, eu me sinto neste momento meio incapaz em aprender a amar de um jeito bonito.

Acho que meu amor é espinhoso.

1 de outubro de 2015

Terapia

De tempo em tempo eu sinto saudade da minha psicóloga. Estava tentando entender porque sinto tanta falta e porque não é a mesma coisa que conversar com um amigo.

Eu não tinha medo de ser eu mesma e correr o risco dela me julgar mal e se afastar. Ela não me amava, então não precisava tomar cuidado com quem eu era. Não tinha medo em me mostrar, eu não perderia nada. Na verdade só ganhava.

A saudade dela talvez seja de mim, talvez seja apenas egocentrismo meu...

22 de setembro de 2015

Eu, primeira pessoa do singular

Quando eu passei por reeducação alimentar, escutava: nossa, sua nutricionista deve ser ótima.

Sim, ela é, mas quem quis e se esforçou para mudar fui eu.

Quando estava deprimida e fiz terapia, escutava: nossa, sua psicóloga deve ser ótima.

Sim, ela é, mas quem quis e se esforçou para mudar fui eu.

Agora me falam que meu namorado deve ser ótimo, porque eu mudei e estou linda.

Sim, ele é, mas quem quis e se esforçou para mudar fui eu.

Eu ainda estou em primeiro lugar na minha vida, não tira minha autonomia, por favor, porque eu não permito isso.


28 de agosto de 2015

Que fragilidade

Esses dias escutei de alguém que me conhece bem que tô muito fragilizada, que isso é perceptível. Fiquei meio surpresa, não achei que fosse.

Me disse também que não acha isso bom, porque assim me machuco demais, já que tudo me afeta em outra proporção.

Sim, eu tô mesmo fragilizada com algumas coisas, entre elas a coisa da autoimagem, mas eu não consigo falar disso muitas vezes. O motivo? Parece algo idiota demais e quase sempre que falo sobre, sinto que há uma tentativa de diminuir o que eu sinto, justamente como se fosse besteira da minha parte, como se fosse coisa pequena.

Eu engordei 5kgs e desde então sigo brigando comigo. Se por um lado tento acreditar que posso sim ser bonita com 5kgs a mais, que posso sim me amar como estou, do outro lado, tem uma voz que diz que estou relaxada, que com certeza estou assim porque estou namorando e que já não me cuido mais ou não ligo para minha aparência. Que é muito feia a minha postura, que eu deveria emagrecer o que engordei e que tô feia.

É conflitante e eu, que tento tanto acreditar na idéia da pluralidade e que a beleza também está fora dos padrões, não consigo seguir forte, me sinto fraca, me sinto fraude.

A gente lê sobre empoderamento feminino, sobre como devemos nos ajudar, mas eu não tenho conseguido. Quando alguém me diz que sou bonita, muitas vezes penso que a pessoa está mentindo, que está justamente falando para tentar me deixar feliz.

E quando eu consigo ter coragem em dizer o que sinto, tenho a clara impressão de que a solução que me dariam é simples: emagrece, Camila.

E não, não é simples, é muito mais do que emagrecer, não quero me sentir mal toda vez que o ponteiro sobe na balança, não é possível que eu condicione meu bem estar a um número, não é...

Mas eu não tô conseguindo dar conta disso, minha cabeça não para já tem semanas, eu não durmo bem e tenho pesadelos.

Junto a isso tudo, eu tô com pedras na vesícula, minha cirurgia será semana que vem, mas eu venho passando mal e a fragilidade parece que só aumentou.

Eu escrevo aqui, neste blog, porque ele é mais pessoal, é mais fechado e porque é difícil falar sobre isso para todo mundo, não quero me explicar para quem não me entende, mas hoje, especialmente, precisava "falar" mesmo que escrevendo e também na esperança de que me lendo, eu consiga mudar as coisas mais rápido. Quando a gente se lê é meio como se enxergasse estando de fora. Eu acho.

24 de julho de 2015

Noite passada eu tive um pesadelo, desses que você acorda chorando porque joga na sua cara toda sua pequeneza, todos seus medos, todas as inseguranças.

Hoje eu fiquei meio estranha, embora há quem diga que eu sou assim mesmo, estranha, mas eu fiquei na minha, me esforcei para fingir que tava bem, porque eu não sei como mudar a chavinha dos pensamentos positivos do nada, então eu disfarço.

Mas aparentemente eu não sei disfarçar também e daí, para confirmar parte do meu pesadelo, eu contamino as pessoas que eu amo, eu estrago o dia bom delas, eu endosso tudo o que não quero ser, mas pelo visto sou.

17 de julho de 2015

Um sentimento pequeno

Assim como todo mundo, eu tenho os meus defeitos. Eu tenho tentado aprender que a perfeição tá na imperfeição, que que é ok eu apresentar essas falhas que eu tenho, mas às vezes eu simplesmente gostaria de ter outros defeitos, diferente dos que eu já tenho.

De forma clara e direta, eu sinto ciúme. Não me acho uma lunática, não me lembro de ter feito cena ou nada escandaloso, mas sim, admito aqui, sou essa pessoa ridícula que sente ciúme. Porque é isso o que todo mundo fala desse sentimento, que além dele ser ruim, é besteira, é bobo, é burrinho.

Em diversas situações eu sinto e não apenas em relacionamentos amorosos. Eu descobri que tenho ciúme, por exemplo, da forma como sou tratada diferente pelos meus pais, se comparada à atenção dada à minha irmã. Me sinto meio de lado e já me chateei bastante com isso, mas hoje eu tento entender as coisas por outro viés e, sobretudo, tento entender que nunca terei a mesma atenção.

Eu imagino que talvez pensem que uma mulher de 33 anos sentir isso é muita imaturidade e talvez seja mesmo, mas cansei de fingir que não sinto. Eu sinto.

Na maioria das vezes eu consigo controlar, mas inevitavelmente em algum momento eu mostro a cara do que senti e quase sempre me sinto a pior pessoa por isso, porque aparentemente as pessoas que convivem comigo não sentem o mesmo, e julgam automaticamente o que sinto como algo infantil e bobo.

Em sentir ciúme entendemos infantilidade, dificuldade em separar o real do imaginário, insegurança, autoestima cagada e uma porção de coisas vistas apenas em pessoas fracas. Defeitos que não compõem alguém equilibrado.

É feio sentir ciúme, todo mundo diz isso, todo mundo trata dessa forma. É um sentimento pequeno, coisa de gente pequena e eu tô me sentindo exatamente assim por esses dias, pequena. Porque eu não sei o que fazer com isso, porque não sei como sumir com isso e não consigo mentir e dizer que vou mudar, porque não sei como deixar de sentir algo.

Eu consigo racionalizar, que é o tenho feito há um bom tempo, mas não consigo não sentir e, justamente por ser um sentimento, nem sempre consigo controlar. Talvez falam que é um sentimento infantil porque o ciúme é justamente como uma criança, você tenta educar, controlar, mas em algum momento a criança vai correr no meio do salão, vai gritar e te fazer passar vergonha, mostrar que você é fraca, é conivente com aquilo e não consegue educar sequer uma criança, tão menor que você. Sequer um sentimento, tão menor que você.


15 de julho de 2015

Mudar

Dificilmente penso em mudar os outros, sempre escutei/li/ouvi que nunca devemos estar com alguém pensando nisso, pois não somos capazes de mudar o outro, mas com certa frequência penso que eu poderia mudar. Mas até que ponto é certo isso?

Se é tão condenável esperar que alguém mude para nos fazer feliz, o quanto é condenável a gente mudar para isso? O quanto eu devo mudar?

15 de junho de 2015

Segunda-feira é sempre um dia meio pancada, daí que hoje tá frio, chovendo e eu tô com uma espécie de gripe que não deve ser gripe, mas apenas uma sinusite cretina que me faz ficar igual aquelas crianças catarrentas que ficam chupando nariz o dia todo. Mas eu também tô fanha e com dor de cabeça.

E tem meus joelhos que estão ralados e doem quando eu dobro e doem quando eu estico, quer dizer, eles apenas doem. Na verdade tudo tá doendo hoje.

Quando acordei, fiquei chorosa, querendo praguejar minha vida, porque além de todo esse cenário, eu ainda preciso trabalhar. Fiquei por um momento tentando entender o que eu tenho, fisicamente falando, já que apenas meu olho esquerdo fica lacrimejando (inserir piada sobre "a esquerda chora" aqui) e minha cabeça dói, mas não deve ser gripe isso, não pode ser, eu quase nunca fico gripada. 

No momento que fiquei tentando entender o que tá rolando comigo, me veio como um tiro "tô cansada de todo dia acordar e me convencer que tô fazendo algo de bom da minha vida".

Eu consigo ser otimista no final do dia, mas de manhã, com chuva, frio e essa coisa que não sei o que tenho, não dá. Mas eu me cobro, porque têm pessoas felizes por aí às 4h da manhã, têm pessoas felizes com suas vidas, com o rumo das coisas, inclusive o rumo errado. Porque eu não posso ser assim? 

Porque não acordo sorridente, orgulhosa da minha própria vida, que nem é tão mal? Sei das crianças passando fome no mundo, sei que, comparativamente, não deveria reclamar de nada, mas porque ainda assim eu reclamo? Porque ainda assim eu sinto que sufoco todo dia de manhã quando meu despertador toca? Porquê?

Eu acabei de ler um texto sobre o poder da fluoxetina, em como ela ajuda pessoas a ficarem bem, eu queria muito ter um remédio milagroso que me ajudasse. Eu já tomei fluoxetina, não aconteceu nada comigo, nem alegria e nem emagrecimento, porque foi pra isso que tomei, para emagrecer, sabe?

Acontece que hoje eu meio que tenho medo de remédios, com a chegada da idade, acho que finalmente tô me tornando aquelas pessoas que querem qualidade de vida, porque eu fico mau humorada em tomar remédios, daí eu vou na homeopata, e tenho lido muito sobre budismo, porque quero transformar meu pensamento e ser uma pessoa melhor. E também porque o budismo é o mais perto que consigo chegar de qualquer religião.

Preciso tomar cuidado para não virar uma espécie de natureba espiritualizada e eu nem sei como isso seria possível, já que eu sou ateia. Que segunda-feira estranha, viu.

26 de maio de 2015

Entre o ser e o não

A semana passada foi muito difícil, foi porrada atrás de porrada e eu não aguentei, chorei pelo menos em 4 dias e quis desistir de tudo nos dias úteis.

Eu não desisti, mas não foi porque sou forte, mas porque ainda que desistisse, não saberia o que fazer. Eu sinto falta de um plano, de uma meta, de algo que motive e eu não acho nada. 

Eu não tenho um plano e aparentemente minha vida está meio vazia em alguns aspectos, mais especificamente no aspecto prático.

Porque estou trabalhando? Para que? O que pretendo construir? O que pretendo fazer da minha vida profissional? Não sei.

Onde me imagino daqui a 5 anos? Prefiro dizer que não sei, tenho medo de responder, porque talvez o que almejo não aconteça. 

Eu voltei de uma viagem que mexeu comigo e aparentemente me perdi em algum lugar, alguma coisa aqui dentro parece que quebrou, mudou drasticamente e eu não me reconheço com tanta facilidade, não sei mais ser quem eu deveria ser.

13 de maio de 2015

Um contrato

Todo mundo já escutou a máxima "seja quem você é", como se houvesse possibilidade real de ser outra pessoa, não é mesmo? Mas sabe, mesmo sabendo que isso é impossível, às vezes rola vontade de não ser.

É um pouco triste perceber que a sua forma de lidar com algumas coisas incomoda quem você gosta, afinal, o que você pode fazer? Ser outra pessoa? Acho que não.

Eu estou há uns dias meio mal, passeio por uma sequência de coisas e pensamentos que me colocaram numa posição ruim, quando isso acontece, da forma como aconteceu, eu acabo demorando um tempo maior para me reconstituir, para voltar ao eixo.

Acontece que as pessoas tendem a perder a paciência com isso e eu entendo, ninguém gosta de lidar com pessoas xoxas e chorosas, é chato, eu sei. Daí falam para eu ficar bem, eu sei que falam isso para o meu bem, mas a urgência para que eu melhores às vezes me deixa mais angustiada ainda, porque eu não consigo de um dia para o outro ficar bem e acabo me sentindo pior, uma mistura de fraca por não ter essa força que quem me sugere tem e meio inútil por deixar quem eu gosto preocupado e chateado.

Hoje eu passei o dia na cama, acordei com uma dor de cabeça como há tempos não tinha e fiquei de cama, não fui trabalhar. Entre sentir dor, chorar e ficar deitada, eu pensei bastante. Ainda tento entender porque certas coisas ainda ecoam em mim, porque me machucam tanto e porque não consigo simplesmente esquecer.

Muitas vezes eu estou bem, daí vem um pensamento, uma lembrança, uma frase dita, coisas que me machucaram, elas vêm do nada e eu fico triste. Eu não sei porque isso acontece, mas acontece. Eu tento controlar, tento me apaziguar, mas é cansativo, é como lutar comigo mesma, é como lutar dos dois lados, apanhar dos dois lados, defender dos dois lados.

Eu decidi que quero ficar bem, como eu estava antes e estou escrevendo isso aqui porque quando as palavras saem de mim e ficam expostas, é como se fosse um contrato, algo que eu terei que cumprir.

Escrevo na esperança de ficar bem logo. Escrevo para que meu corpo não adoeça. Escrevo porque tem diferença entre ser e estar triste. Eu estou, mas tenho certeza que meu estado não é permanente.

11 de maio de 2015

Cristo e eu

Eu acordei meio xexelenta, meio sentindo que minha vida tá besta, tá vida de formiga, tá no limbo.

Não tenho grandes planos futuros, não vou comprar um carro, nem uma casa, também não vou alugar um canto para chamar de "meu". O primeiro eu até posso, mas não quero, o segundo e o terceiro eu quero, mas não consigo de forma alguma.

Não vou adotar um gato porque não tenho casa para isso, não pretendo viajar esse ano porque acabei de voltar de férias. Pensei em fazer uma pós graduação, mas não sei em que isso efetivamente me ajudaria, a ter um salário melhor e poder comprar um apartamento? Bom, pelo menos não perdi o senso de humor, tô fazendo piada.

Cristo aos 33 anos morreu e ressuscitou, eu ainda moro com meus pais em São Bernardo do Campo, escrevo em blogs para não pirar totalmente, choro escondida e finjo que é gripe. 

Queria saber onde está a minha semelhança com Cristo, não que eu queira morrer, não curto essas paradas, mas sei lá, poderia pelo menos transformar água em vinho e ficar meio bêbada, meio alegre, só de boa por aí.

5 de maio de 2015

Desalinho

Tenho a impressão de que alguma coisa mudou em mim, desarrumou algo, estilhaçou. E eu que sou tão boa em organização, não estou conseguindo arrumar a bagunça que eu mesma fiz e nem colar as peças que quebrei. Poderia jogar os cacos debaixo do tapete, mas sei que vou pisar neles mais cedo ou mais tarde, sei que vai machucar... de novo.

Não são todos os dias que acredito ser capaz. Queria ter metade da fé que tenho nos outros, em mim.

 

22 de fevereiro de 2015

O burrinho

Quando eu era criança tinha um álbum de figurinhas que chamava "Filhotes fofinhos" eles realmente eram fofinhos, as figurinhas eram peludinhas. Eu adorava!

Um dos filhotes era um burrinho chamado Pupo, isso aí, meu sobrenome e eu achava o máximo um burro chamar Pupo. Bom, cada personagem tinha uma história e sempre tinha uma lição de moral no final.

O Pupo era um mentiroso compulsivo, contava mentiras para tudo. Até que um dia, aconteceu algo grave de verdade e ele foi buscar ajuda dos seus amigos. Mas como ele sempre mentia e todo mundo já estava esperto com ele, ninguém acreditou e o Pupo se fodeu. Não lembro bem o que aconteceu com ele, só que ele, tadinho, se lascou.

A moral da óbvia da história é que contar mentiras é uma coisa muito ruim, a moral implícita é que quando você comete um mesmo erro algumas vezes, você possivelmente vai criar um precedente bem chato de lidar. Mesmo que você não esteja fazendo aquela cagada que já fez antes, vão desconfiar que você está sim, porque aprender que padrões se repetem e se defender disso, é reação.

Logo na minha primeira sessão de terapia tive que falar com qual animal me identificava, disse que era um gato. Hoje, se me perguntassem isso novamente, diria que me identifico com o Pupo, o burrinho. Não pela mentira, mas por me foder em repetir o mesmo erro algumas vezes e não saber como lidar com esse precedente.

Olha o álbum :)

E algumas das figurinhas, mas não tem do Pupo, descobri que eram as mais difíceis de achar.

21 de fevereiro de 2015

Um blog novo

Oi.

Esta é uma postagem para avisar que fiz um blog novo.

Não, este aqui não está esquecido nem abandonado, ele apenas ficará como sempre foi, mais pessoal, mais mimimi, mais eu choramingando quando for preciso, desabafo para não explodir :)

Ele chama Abobrinhas Consistentes, se quiser, passa lá :)

Beijo!

12 de fevereiro de 2015

Um calorzinho sem vergonha

Quando eu era mais nova adorava o frio e obviamente que odiava o calor. Não gostava de jeito nenhum, falava mal, achava chato, era aquele discurso já manjado de quem curte frio. 

Daí que passei por uma fase complicada lá pelos 29 anos [aquele abraço para o retorno de saturno]. Terminei a faculdade, fiz terapia, passei por mudanças significativas, fiquei mal, fiquei bem, fiquei mal pra caralho e daí fui melhorando.

Final de semana passado eu sai usando uma regata. Eu tenho 33 anos e foi a primeira vez que usei uma regata. O motivo de não ter usado antes? Vergonha do braço gordo, vergonha de mostrar como sou e o que sou. Quando a gente é mais nova ou imatura demais para entender o próprio corpo, a gente quase acredita que com a roupa certa, vamos parecer outra pessoa. 

Quase acredita que no frio, com aqueles 500 casacos nos cobrindo dos pés a cabeça, as pessoas não vão notar nossas gorduras, não vão perceber que temos barriga, que temos dobras, que temos braço roliço.

Bom, é mentira. No frio a gente continua gorda, nada disso muda. Nadinha. Hoje percebo que meu discurso de adoração pelo frio veio daí, veio dessa ideia de que me escondendo, talvez eu parecesse diferente, menos gorda, menos eu.

Lá com 30 anos, quando passei por um processo de reeducação alimentar que resultou no emagrecimento de mais de 10kg e que veio no caminho para me gostar mais, eu entendi isso, eu entendi o porque eu não gostava do calor, porque odiava praia, sol e qualquer coisa que me obrigasse a mostrar meu corpo, a ficar mais peladinha.

Era vergonha, dessas que te faz querer ser diferente e chorar por não conseguir se encaixar no que é padrão. Eu sei que esse assunto de falar sobre o próprio corpo e aceitação já tá manjado, mas continuo achando importante falar sobre isso.

Em menos de 30 dias eu saio de férias e um dos lugares que vou tem apenas as praias mais bonitas do mundo. Eu vou usar roupa de praia, mas eu ainda não consigo usar biquíni, tenho vergonha, vou usar maiô, um passo por vez.

Vai ser ótimo, vai ser lindo, vai ter calor de quase 40ºC e vai ter eu com roupa de praia mostrando meu corpo por aí, suando nas regatas, andando descabelada e feliz.

Eu gosto da ideia. Gosto de me ver hoje ousando deixar minha vergonha de lado, mesmo que ainda não consiga usar biquíni, mas já faço muito mais do que fazia há 3 anos, hoje eu me permito muito, corro muito mais, me gosto muito mais :)

É muito válido o esforço em ser uma pessoa sem vergonha, ainda mais com esse calorzinho tropical.




7 de fevereiro de 2015

A minha família

Eu moro com meus pais e a minha casa é bagunçada. Essa descrição deveria bastar para entender muita coisa e, com algum esforço, eu acho que basta.

Cresci numa casa térrea, alugada, com dois quartos. Eu dormia com minha irmã, meu irmão e meu avô, todos no mesmo quarto. Meu avô roncava a noite toda, algo como um motor de caminhão e mesmo assim, todo mundo dormia. A casa era bem simples, mas tinha um quintal grande. Na cozinha a gente tinha uma geladeira vermelha, a mesa era de fórmica, assim como os armários. A gente tinha cachorro e alguns gatos que foram surgindo no decorrer da minha infância. Eu morei nessa casa até os 17 anos e então mudamos para uma casa própria. a casa que moro hoje.

A casa que moro hoje é maior, é um sobrado, cada um tem seu quarto, mas meu avô já morreu e minha irmã saiu de casa, está tudo mais vazio. A casa, apesar de grande, continua bagunçada. As coisas somem aqui em casa, eu explico. Se você compra um chocolate pensando em comer ele depois de amanhã, ele terá desaparecido, alguém vai comer. Se você comprar uma xícara bonita pensando que quer tomar seu chá quentinho nela, pode ser que depois de algumas semanas ela esteja quebrada, talvez na lavagem, talvez no esbarrar do armário, "é normal", me falam, "essas coisas acontecem, Camila! É só uma xícara". E eu me irrito, me irrito porque somem as coisas, porque as coisas quebram, mas "é só uma xícara, Camila!". É só uma xícara mesmo e é a minha família, minha família bagunçada, que quebra as coisas e some com tudo. É minha família.

Eu estou lendo "O complexo de Portnoy", do Philip Roth e no livro, o personagem basicamente culpa a família dele por todos os seus problemas, às vezes eu faço isso, mas sei que é mentira, sei que não é assim, é comum a gente ver o lado negativo de tudo com mais facilidade.

Eu fui criada pelos meus pais e meu avô, o que dormia no quarto roncando, era o vô Adelino. Ele me chamava de "nina", abreviação do italiano que trouxe consigo, e sempre beijava minha bochecha sorrindo, me levava para o balé duas vezes por semana e ficava sentado escutando eu ler as histórias sem pé nem cabeça que eu escrevia (sim, eu escrevia histórias sem pé nem cabeça), ele ria e na minha lembrança, ele adorava as minhas histórias.

Meu vô Adelino era alcoólatra e a história que soube, foi que minha vó cansada de lidar com isso, colocou ele para fora de casa. Minha mãe conta que ele ficou na rua alguns dias até que ela soube e o trouxe para a nossa casa, aquela casa térrea lá de cima que contei. Eu não lembro de quando foi isso, acho que era criança demais, a única lembrança que tenho, é só do meu vô sempre presente.

Algo que minha mãe sempre me disse é que sabia que ele não havia sido um bom pai pra ela, justamente pela ausência que a bebida trouxe, mas que ela ficava muito feliz de saber que ele era um ótimo avô. Ele foi mesmo, o melhor que eu pude ter.

A história toda é para falar que hoje, eu lembro de algumas coisas e vejo com outra perspectiva. Lembro que meu vô vivia implicando com meu pai, meu pai sempre ria e não falava nada. Meu pai acordava às 4h da manhã todo dia para ir trabalhar na Wolks, meu pai foi metalúrgico e hoje eu noto o esforço dele em sustentar a família, assim como minha mãe, que sempre vendeu e vende ainda hoje, uma infinidade de coisas, tudo para complementar a renda familiar. Mas não consigo deixar de notar a grandiosidade do meu pai em aceitar ter o sogro morando com ele, amo meu vô, mas lembro dele ser meio pentelho mesmo com meu pai. 

Meu orgulho pela minha família bagunçada vem da minha mãe que não deixou seu próprio pai na rua só por ele ser bêbado, ela conta que falaram para ela "porque você vai recolher ele? ele bebe tanto que nem sabe que você é filha dele" ao que ela respondeu "mas eu sei que ele é meu pai" e o trouxe para casa.

Meu orgulho pela minha família bagunçada vem do meu pai, que entende a importância da família por perto e não se importou de dividir sua casa e sua vida com meu avô, mesmo ele implicando com ele, mesmo que isso dificultasse o seu dia-a-dia.

Meu orgulho pela minha família bagunçada vem do meu avô, que com todos os defeitos dele como pai, foi o melhor avô que eu poderia ter.

A minha família é bagunçada sim, ela me irrita deveras, me faz querer arrancar os cabelos em diversas ocasiões, mas tudo o que ela me oferece, de bom e ruim, me faz o que sou. E hoje eu acordei com muita saudade do meu avô me chamando de Nina e rindo pra mim.

Esse é meu vô Adelino, ele sempre usava chapéu :)





6 de fevereiro de 2015

Sobre o amor

O amor se mostra em várias formas e uma de suas facetas, uma das essenciais eu diria, é quando você tem certeza que, se pudesse, pegaria para si todos os problemas que dificultam o sorriso de quem você ama.

Eu pegaria todos os problemas para mim, porque eu prefiro a ideia de lidar com problemas, do que ter quem eu amo triste.

É clichê, mas quem ama, quer bem sim.

26 de janeiro de 2015

Obrigada, Chimamanda

Eu estou lendo o livro Americanah, da Chimamanda Ngozi Adichie e a minha vontade é de falar para todo mundo ler, estou naquele ponto de achar tudo tão bom, tão coerente e iluminador, que acho injusto algumas pessoas não terem o prazer de poder ler o que ela escreve, tanto que vim aqui escrever sobre isso.

Eu não vou tentar fazer resenha, primeiro porque não terminei o livro e segundo porque não acho que estaria à altura. Definitivamente é um livro para se ler por completo, resenhas não cabem bem.

O que eu posso dizer é que há pouco mais de uma semana, eu tenho me sentindo quase tonta com as coisas que a autora traz, confesso, com um pouco de vergonha, que são coisas que eu não tinha pensado e nem tinha notado, mas acredito que nunca é tarde para descortinar coisas que estão fora do nosso campo de visão.

O livro fala de racismo, de feminismo, de romance, de força e de sentimentos comuns a todos nós. Parece genérico falando assim, né? Mas é porque eu não consigo sintetizar o livro, me sinto meio entorpecida e parece que o que tento dizer é menor perto do livro.

Bom, se você, assim como eu até então, não conhecia a Chimamanda Ngozi Adichie, faça um favor a si mesmo e conheça. Se não tem como ler o livro agora, tem dois vídeos de palestras dela bem bons, que eu acho que são até bem famosos, mas eu também não conhecia.

Esse que ela fala sobre o perigo de acreditar e ouvir uma única história.



E esse, um discurso chamado "Sejamos todos feministas" que também você pode baixar gratuitamente aqui ou aqui para ler ele na integra.

E se nenhuma das minhas palavras te convenceu a ler o que ela tem a dizer, deixo um trecho do discurso dela em "Sejamos todos feministas" aqui embaixo :)

"Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece. Não ensinamos os meninos a se preocupar em ser “benquistos”. Se perdemos muito tempo dizendo às meninas que elas não podem sentir raiva ou ser agressivas ou duras, elogiamos ou perdoamos os homens pelas mesmas razões. Em todos os lugares do mundo, existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer, como devem ou não devem ser para atrair e agradar aos homens. Livros sobre como os homens devem agradar às mulheres são poucos."




22 de janeiro de 2015

O barulho que eu faço

Há uns dois meses eu decidi dar um tempo de escrever aqui, embasada na ideia de que a paz e o silêncio que eu precisava, talvez estivesse justamente no barulho que eu fazia ao escrever. Me serviu para algumas coisas, não sei se positiva, às vezes parece que me fechei mais no que eu sinto. Muitas coisas antes eu queria compartilhar, hoje eu apenas fico quieta e deixo passar. 

Eu tinha a ideia de que a maturidade me pouparia de certos sentimentos, de certos conflitos, mas o máximo que consegui foi fingir. Fingir que não ligo, fingir que entendo, fingir que não me chateei. Na verdade eu já falei em algum momento da minha vida, meio que brincando, que maturidade é quando você consegue fingir que não liga para algo e convence outra pessoa disso. Toda brincadeira tem seu fundo de verdade.

Eu finjo muito mal, não sei ser madura em nenhuma das esferas, seja em não sentir ou em fingir. Eu tenho 33 anos e não sei lidar com sentimentos que, quando tinha 15 anos, imaginava tirar de letra com esta idade de adulta.

A minha suposta maturidade veio de um jeito torto, veio pelo medo de não agradar, veio pelo medo de ser como eu sou. E o discurso "seja quem você é" de fato é verdadeiro e bonito, mas na vida real, na hora que você sente medo e sente aquela hostilidade da outra parte, muitas vezes fica aquela vontade de ser uma pessoa diferente do que se é. 

Eu tenho algumas sombras comigo que carrego em segundo plano, como a ideia de que sou chata, de que sou grosseira, controladora demais e outras coisas. São ideias plantadas desde cedo sobre quem eu sou. Não sou inocente de achar que essas concepções se criaram gratuitamente, eu sei que tenho culpa em cada uma delas. O negócio é que eu vou me blindando, vou tentando construir um muro para que isso não chegue em mim, que não me afete e me faça acreditar que sou tudo isso de ruim que pensam de mim, mas às vezes cai um tijolo, desmorona tudo e aquilo que eu tentava me proteger, me acerta. Talvez o muro não seja uma boa ideia afinal, talvez quando eu for madura o suficiente essas coisas não irão mais me atingir.

Sim, claro que posso mudar, eu já mudei, mas hoje eu estou assim, sou imatura em uma caralhada de coisas e sinto uma angustia no peito quando me percebo dessa forma, como aconteceu hoje e justamente por isso que eu decidi escrever, porque senti que cheguei na boca do balde, que pode vazar toda a imaturidade que eu tento esconder e escrever é um modo de escoar isso de forma mais segura.

Eu gostei do silêncio por aqui, mas talvez não seja, para mim, o melhor método no processo construtivo de mudança. Quebrar muro faz barulho.