23 de junho de 2014

Fingi na hora de rir

Saí com minha mãe hoje, ela me perguntou se eu estava bem, como que já sabendo que eu não estava. Menti, como sempre faço, disse que sim, estava bem. Ela insistiu e eu disse que estava cansada. Ela falou que eu sou muito nervosa, que "não é bom ser assim, filha". Não, não é bom. 

Frequentemente eu escuto de pessoas que gostam de mim que não me entendem, porque eu me deixo afetar por coisas pequenas, ou porque do nada eu fico triste.

Sabe, eu também não entendo bem quando entro nessas fases, mas me sinto um ponto pior quando preciso ouvir isso, que não me entendem ou que "porque você é assim? é tão melhor ser alegre".

Eu sei disso, eu só não sei sempre fazer tudo certo, eu não sei fingir perfeição, é só isso.

Um comentário:

André Vieira Richardi disse...

Tempos atrás eu ouvi a palavra wabi sabi. Me explicaram que é uma percepção estética, uma filosofia da beleza, uma nova percepção de como olhar para as coisas.

Apesar do termo, como qualquer outra palavra ter se desenvolvido e alterado o seu significado primordial algumas vezes, podemos entender o wabi sabi como uma estética calcada no valor da imperfeição das coisas, sejam elas na sua temporalidade, uma vez que tudo se degrada com o tempo, sejam na impossibilidade de perfeição na sua criação.

Lembro-me que quando tive um pouquinho mais de contato com essa forma de pensar toda uma nova cadencia de ideias se iluminava na minha frente.

Quando você fala, “... não sei ser perfeita...”, me parece que a dor recai no fato de perceber, que as coisas não são perfeitas. Não foram e nunca serão. Que a nossa realidade é construída; construída a partir das nossas percepções, que também são imperfeitas. Que imperfeição do nosso olhar é também bonita e acolhedora e que também pode ser construtiva.

As flores que florescem, mais do que não se importar com os seus pares, elas não se importam com as suas folhas tortas, com aquelas cujas cores não são tão vivas, com aquelas de caule pequeno ou de seiva fraca. Elas apenas florescem.

E na verdade a singularidade de cada flor só pode existir na impossibilidade da sua perfeição.

Nas ultimas semanas eu tenho me posto a desenhar pelo menos 1 hora por dia, todo dia. Hábito que eu sempre gostei desde criança e que mesmo parado depois de um tempo ela sempre esteve próxima ou ao meu redor.

Quando me ponho a desenhar sei que mesmo antes deu começar ele não sairá exatamente como eu quero, que eu não vou gostar dele e que o próximo será melhor do que ele, e que eu também não vou gostar dele.

Mas também sei que nessa inconstância e em tudo que ele contém de errado, do que eu não gosto, não existe melhor percepção do meu “eu”, do que eu posso considerar indivíduo.

Também não há felicidade maior quando reconhecem um desenho meu pelo traço. Ainda que nem sempre seja exatamente meu. E falam como é bonito o seu desenho, e fico surpreso quando não se dão contam da quantidade de erros que eu vejo. E como aqueles que desenham melhor do que eu quando percebem meus erros sorriem reconhecendo a singularidade do que eles deixaram de ser, e que também reconhecem a minha individualidade.

Tenho a impressão que eu te reconheço nos teus verbos e advérbios, Pronomes e artigos. Que te reconheço nos seus temas e no seu argumentar. Ele é todo errado e ainda assim tão bonito e perfeito.