7 de fevereiro de 2014

Um vestido

Sabe quando você olha algo, por exemplo um vestido, um vestido lindo, daqueles que só de observar você se sente linda, fica feliz só de imaginar usando, o mundo seria seu se você pudesse usar algo tão bonito, parece perfeito.

Parece, mas na verdade você não tem onde usar aquele vestido, ele é bonito demais, não cabe na sua realidade. Não cabe na sua vida de proletária, não se encaixa com seu almoço corrido, nem com seus finais de semana ociosos, nem com sua vida comum. Não se encaixa, por mais que você queira, por mais que você finja que nasceu para usar um vestido assim.

Ele é lindo, mas todo mundo quer olhar, quer pegar e você não gosta que encostem demais, ele não é um vestido para usar em casa, na verdade é um vestido que você precisa levar para passear sempre, ele tem que ser visto e você percebe, de repente, que não saberia usar um vestido assim. Daria um trabalhão, no fundo seu vestido ideal é de malha, simples, daqueles que se usa em casa muitas vezes. 

De repente você percebe que o vestido tem grandiosidade demais para você, que sua vida é muito simples pra ele, é pouco. E você percebe que, por mais que o vestido insista que adora ficar no seu corpo, que gosta do caimento, você no fundo sabe que ele não vai ficar, porque ele quer que o mundo o veja e o vestido sabe que tudo são escolhas, ele sabe também que para conquistar o mundo e ser visto não poderá ficar no seu corpo e que o par de olhos que você oferece é pouco.

Têm vestidos que nasceram para serem vistos, outros para serem usados. Eu acho que sou a segunda opção e eu gosto de ser assim.

*Esse texto foi escrito tem algum tempo e por covardia eu não publiquei. Mas de alguma forma eu lembrei dele hoje.

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