28 de dezembro de 2013

Mano velho

Dormi mal, muito mal e acordei mais xoxa que um saco de salgadinho que ficou aberto tempo demais.

O tempo não cura tudo, ele fode muitas coisas também.

Muitas.

25 de dezembro de 2013

Espírito de porco e a família no quintal

Vocês que se apaixonam com frequência, que namoram e terminam, que amam e deixam de amar em 6 meses, por favor, me expliquem, como vocês conseguem passar por essa união de sentimentos confusos, se manter ilesos e entrar em outros relacionamentos sem medo algum?

Sério, como? Como vocês lidam com a insegurança, com o ciume, com a frequente sensação de que a mesma pessoa que se declarou para você há um dia pode, do nada, deixar de querer estar contigo?

Como vocês não enlouquecem e não ficam com tanto medo que dá vontade de dormir apenas ou de chorar, por se achar totalmente inapta para essas coisas?

Eu sinto tanto medo o tempo todo, mas tanto, que acho que não fui programada para me apaixonar, eu não sei fazer isso e a cada momento que um desses sentimentos, que eu já nem lembrava que poderia sentir, surge, eu tenho vontade de parar tudo.

Natal, família fazendo churrasco no quintal e eu aqui pirando.

Memorável, um dos piores que já tive. Espírito natalino? Não trabalhamos, temos apenas o de porco.


19 de dezembro de 2013

Alegre o tempo inteiro?

Eu fico quieta porque eu já conheço a dança. Eu odeio perceber isso, odeio de verdade, mas eu preciso fazer o maior esforço para não me convencer que aquilo que julgo melhor pra mim, não é o melhor porra nenhuma, sou só eu fugindo, sou só eu com medo, sendo fraca, eu sendo eu.

E sabe, eu não quero mostrar essa parte minha, não quero mostrar que sou medrosa, que sou imatura, que eu piro. Não quero.

Eu quero ser segura, ser feliz, ser sensacional, quero ser otimista, quero ser sorridente. E eu consigo isso, eu sinto que posso ser isso na maior parte do tempo, mas assim como o Wander Wildner canta, eu também não consigo ser alegre o tempo inteiro, eu não consigo.

Desculpa.

12 de dezembro de 2013

Apaixonar

Todo mundo tem uma visão linda de se apaixonar, que são borboletas, que são sorrisos, alegria, passarinhos e leveza. Eu tenho dúvidas, viu?

Tá, tem tudo isso mesmo e é bem bom, mas junto é como se uma bigorna caísse na minha cabeça, seguido de náusea, taquicardia, fala acelerada e uma possível gagueira em falar a palavra "responsabilidade" porque sempre que fico nervosa eu falo qualquer coisa como "responsilbidade" ou ainda fica impossível falar "setenta e sete", sempre sai uma sequencia de "seteteteteetet" é um horror.

Fora o bigodinho de suor, né? Aquele suador de nervoso mega deselegante. Mas é a vida, gente, é assim. Gostar é ficar nervosa, é falar merda e gritar mentalmente consigo "MEU DEUS DO CÉU PORQUE EU TÔ FALANDO ISSO? PARA, CAMILA! PARA COM ISSO, MUDA DE ASSUNTO! PARA DE FALAR LOGO DE CARA QUE VOCÊ FEZ TERAPIA E QUE É CONTROLADORA! EU PERDI A NOÇÃO, ALGUÉM ME AJUDA?!"

Tudo isso porque a fase inicial da paixão é complicada, os limites não estão estabelecidos, não dá para saber se após 4 horas de uma mensagem enviada tá permitido ligar para ver se ele tá vivo ou se vai parecer cobrança amalucada.

Ou se querer ver o cara no meio da semana é considerado loucura, não sei se posso sentir saudade e falar isso sem parecer grudenta. Não sei se posso ficar triste com a ausência e falar abertamente. Não sei lidar. Eu basicamente não sei porra nenhuma e fico sempre achando que vou parecer louca, descontrolada, louca, louca, louca.

Se apaixonar é quase como acreditar em Deus, não existem muitas provas concretas de que aquilo vai dar em algo, você sequer sabe se vai entrar no céu, mas fica lá, gostando, de riso solto por aí, torcendo e rezando, mas rezando muito, para não se foder, como se tivesse algum controle de um coração bobo que acelera só com uma mensagem de "bom dia".





9 de dezembro de 2013

Choro macarrônico

Eu tive a brilhante ideia de que injuriei do meu inglês besta e que queria fazer aulas, melhorar, evoluir, ser uma pessoa mais instruída.

É angustiante, é triste, é torturante você perceber que falhou miseravelmente em alguma coisa com 32 anos, no meu caso falar inglês. Claro, eu não esperava que chegando na aula a professora de 15 anos me falasse "nossa, seu inglês é espetacular, nada macarrônico, vai embora" mas sei lá, é uma mistura de frustração com pena de si mesma ver que o caminho é chato, que você deixou o tempo passar e agora, mesmo sem o fôlego dos 15, vai ter que correr.

Eu sei, sei que é feio ter pena de si mesma, lamentar e se sentir pequena esperando que os outros me confortem com algo que cabe a mim. Eu sei. Isso é só período de ajuste, é só meu lamento, porque eu sei que vou me cobrar para essa merda dar certo.

Eu sei também que no ônibus, quando tocou Strokes, eu quis chorar, mas esperei para chorar no banho, porque lá ninguém me vê e também eu não teria que explicar meu drama "classe média sofre e quero chorar porque não sei falar bem inglês".

Quando se é mais novo, até o não saber é divertido, depois é só cobrança mesmo. Nada fica mais fácil quando o tempo passa, nada. O tempo pode curar algumas coisas, mas não facilita porra nenhuma, isso é certo.

"When we was young, oh man did we have fun.
Always, always"

10 de novembro de 2013

Blur e uma oração

Eu sabia que ver o show do Blur seria algo especial, sabia que seria emocionante, eu carrego uma carga emocional muito forte com a banda, são fatores demais, são dores, amores, fases, enfim, muita coisa interligada, muita história.

Eu sabia também que ao escutar "Tender" meu coração possivelmente iria acelerar, mas o que eu não sabia é que eu iria chorar nos primeiros acordes e por toda a música.

A parte que eu não sabia e continuo sem saber, é porque chorei tanto, mas eu chorei. Chorei um choro guardado, chorei desabafo, chorei e de um jeito clichê deixei muita coisa ir embora, foi minha catarse particular, foi minha libertação.

Quando a música acabou e eu ainda estava chorando, um cara na minha frente falou para o outro:

- Caralho, que foda.
- Foda demais, isso não é música, é uma oração.

É isso, não é música, é uma oração, pelo menos pra mim.

Eu estou muito feliz, muito mesmo, tanto que escrevo isso aqui chorando e escutando de novo a minha oração.

Amém.


4 de novembro de 2013

Uma orquídea

Teve um momento da minha vida, acho que há uns 4 anos, que estive bem mal. Terminei a faculdade, terminei um namoro de 8 anos e ganhei uma autoestima capenga e um momento "ok, agora que tô sozinha, que porra eu faço comigo?"

Foi meio isso, eu realmente não sabia o que fazer ali, sozinha. Eu, eu mesma e nenhuma Irene. Fiquei perdida, me achei desinteressante, me julguei mal, enfim, peguei caminho destrutivo, coisa que acho que todo mundo já fez um dia.

Daí eu tive a ideia de tatuar uma orquídea, porque remete à feminilidade e eu queria acreditar que eu era uma mulher bonita, uma mulher interessante, feminina e forte. 

Ontem, quando saí do banho, depois de muito tempo, eu observei a orquídea no meu ombro. Fiquei ali, de frente para o espelho, me observando e sabe o que percebi? Hoje eu finalmente acredito em tudo o que a orquídea remete [pelo menos por hoje].

Ufa.

A tal orquídea

26 de outubro de 2013

Sentimentos rupestres

Os sentimentos só existem quando especificados? Só existem quando conseguimos dar nomes para eles? Como era lá no tempo das pinturas rupestres, onde a preocupação aparente era apenas sobreviver. Sofriam com a solidão? Sofriam com a morte de um parente? Sofriam emocionalmente?

Parece que a solidão é uma coisa moderna, uma espécie de característica do nosso tempo. Talvez seja justamente porque nunca nos expressamos tanto quanto atualmente. 

Se lá no tempos das cavernas eles sofriam? Francamente eu não sei, mas digo que pensar na praticidade da vida, na sobrevivência de não ser comido por um animal qualquer, não me parece tão brutal quanto pensar na solidão. 

Um animal que rasga tua jugular resolve a coisa em pouco tempo, claro que a morte não é exatamente a expectativa almejada, ainda que ela seja uma das poucas certezas da vida, mas o que muito se escuta e que acho que até concordo, é que todo mundo gostaria de ter uma morte breve, uma morte em que não é preciso pensar muito, ela simplesmente vem, te pega pelas pernas e te arrasta. Sem ter muito o que pensar, sem ter muitas escolhas, apenas aquilo.

Já a solidão é devagar, ela te faz pensar em todas escolhas, te faz pensar na vida, naquilo que você já tinha como certo, mas começa a achar errado. Ela te faz duvidar das suas escolhas, te faz pensar que fez tudo errado e que o resultado da sua vida é apenas reflexo das suas péssimas escolhas, aliás, a solidão faz isso com frequencia, faz você pensar que só fez escolhas ruins. Então você pode querer morrer, pode querer sumir, pode querer ficar quieta para sempre, porque não aguenta mais tanta merda, tanta expectativa criada para resultar em 0.0, mas se você for uma dessas pessoas apegadas à vida, o que é o meu caso, você pode não querer morrer, mas você pode se lamentar por um dia todo que suas escolhas te levaram para um lugar estranho e que, por mais que você tente, parece que anda em círculos e você finalmente se cansa de tentar entender, você apenas deita na sua cama e passa um sábado de sol pensando que pelo menos gostaria de ter vontade de chorar, afinal, chorar seria alguma coisa.

"- Alguma coisa, sabe? 
- Que coisa?
- Qualquer coisa, pode até me fazer sofrer, mas qualquer coisa.
- Ok, sei o que fazer."

Eu não soube nomear, daí eu ganhei TPM.
Paciência, pelo menos ela dura pouco.

23 de outubro de 2013

Ok, então

Ontem, na minha penúltima sessão da terapia, ela perguntou: "como você tá?" e eu respondi "tô bem, quer dizer, acho que tô bem, na verdade eu sempre fico em dúvida se tô bem porque amadureci ou se porque tô apática". Eu tenho grande tendência à apatia.

Enfim, no andamento meio que conclui que tô bem sim, acho que depois de tanto tempo tô bem, de uma forma mais leve, com uma aceitação mais verdadeira de quem sou e do que devo esperar dos outros. 

Mas como muitas vezes a coisa funciona entre calmaria e tormenta, foi o que aconteceu. Mentira, não foi tormenta, foi um chuvinha, daquelas que só molha e enche o saco, mas me chateou, me molhou e borrou meu rímel.

Eu tenho criado bem menos expectativas com as pessoas e tenho feito um verdadeiro esforço para acreditar no que me falam, mas acreditar mesmo, aceitar o que foi dito e ok.

Por exemplo, o cara me disse que não que não quer namorar, que não quer compromisso, que só quer comer todo mundo por ai? Ok, eu acredito. Eu não vou tentar desvirtuar ele desse caminho, não vou supor que disse isso na real porque tem medo de se envolver ou qualquer merda genérica que 'aprendemos' a usar como desculpa quando uma pessoa não quer ficar conosco, desculpa que usamos simplesmente porque preferimos uma mentira do que a verdade de que nem sempre somos "a pessoa especial" para uma outra. Todo mundo quer ser especial para alguém, eu e você.

Se o cara me disse que tem problemas? Ok, acredito.
Não quer se envolver? Tá bom, não vou forçar.
Afirma que é complicado? Entendo, se tá falando deve ser mesmo.
Só quer sexo? Boa sorte, aproveite.

E daí que eu volto para o início, na minha dúvida sobre estar bem ou apática, porque em outros tempos eu sofreria, eu ficaria triste, eu acharia que o problema sou eu, tentaria uma forma de contornar a situação, mas hoje eu prefiro acreditar que o que me foi dito é verdade e simplesmente deixo ir. Se por um lado isso me traz certa leveza, por outro fico pensando se isso não é a tal apatia, uma indiferença que pode me estagnar pela aceitação em demasia do próximo e que talvez eu perca algumas coisas/pessoas por esse comportamento.

Eu não sei, realmente não sei se tô indo pelo melhor caminho, mas sei que tenho pensando muito mentalmente "Ah, é? Ok, então" e, na maioria das vezes, só tiro meu time reduzido de campo e a vida segue. 

E é isso, ok?
Ok, então.

dual/trial





17 de setembro de 2013

O potinho da loja de candomblé, o mendigo e um banho de piscina

Sai da terapia e perto do metrô tem uma lojinha de candomblé, na porta tinha uns potinhos e escrito apenas "promoção" eu gostei do potinho, porque o que eu tinha para tomar iogurte sumiu, daí peguei e fui lá pagar. A moça do caixa, um loira bem bonita, ficou me olhando desde lá da frente da loja, eu vi. Cheguei no caixa e ela me deu um puta sorrisão:


- Boa noite!
- Oi, boa noite, vou levar esse potinho aqui. Quanto é mesmo?
- 1 real.
- Nossa, só 1 real?
Ela rindo, disse que sim.
- Ixi, eu só tenho uma nota de 20, você troca?
- Troco sim.
- Pronto, tá aqui, 19 reais, você agora tem bastante trocado pra dar.
- É verdade - falei rindo - desculpa te deixar sem troco.
- Nem deixou, sempre tenho troco, querida.
- Então tá bom, brigada! Tchau!
- Tchau, linda.

Peguei o metrô, desci no Sacomã e fiquei lá esperando minha carona. Enquanto estava parada, escutei um cara falando com alguém atrás de mim, ele dizia:

- Não peço ajuda para as mulheres, falo só com os homens porque elas costumam ficar com medo... eu entendo, né?

Percebi o cara passando do meu lado e parou. Eu olhei pra ele e o diálogo, a parte que lembro, porque ele falou muito, foi:

- Oi! Você me olhou, então vou abrir uma exceção, vou falar com você - disse sorrindo.
Eu sorri apenas, ele continuou:
- Sou mendigo, as pessoas preferem não falar comigo, você deve entender. Você sabe que eu tô aqui para pedir, né? Quer dizer... PEDIR ahahah eu tô me humilhando mesmo e pedindo esmola.
- Não precisa se humilhar, quem não precisa de ajuda, né?
- O ser humano sempre precisa de algo, é um horror, se fosse você no meu lugar, também estaria pedindo. Minha mãe abriu mão de mim, sou drogado, sou bêbado, acho que sou um pouco feio também, mesmo tendo olho claro.
- TENHO OLHO CLARO, OLHA!
Realmente, ele tinha olhos azuis.
- São bonitos seus olhos.
Ele gargalhou e respondeu:
- Menina, não me dá corda! Sou igual pombagira, mas eu gosto de mulher, por isso que tô falando com você.
- Eu não gosto de mulher.
- Hahahaha hoje é meu dia de sorte.
Tirei 5 reais da carteira e dei pra ele.
- Nossa! Tá me dando mesmo? 
- Tô, ué.
- Então se você me deu, eu vou gastar, vai que me roubam.
- Sim, é pra gastar, dinheiro é pra isso.
- Da última vez que me roubaram, me deixaram pelado, mas peladinho mesmo, sem roupa.
- É mesmo? Ficou como veio ao mundo então.
- É, a Marina disse que não lembra se eu nasci pelado.
- Marina é sua mãe?
- Isso, Dona Marina, mas ela disse também que não sou mais filho dela. Mas eu sei que sou, mas ela não quer que eu seja, mas eu já nasci, ela não pode fazer nada. Pode mandar me prender, ela já fez isso umas 3x.
- É, porque?
- Eu sou meio ruim, nasci assim, mas não machuco ninguém, nunca foi por isso.
Minha carona chegou, eu estendi a mão pra ele:
- Eu tô indo embora, quem eu tava esperando chegou, boa sorte, viu?
Ele segurou minha mão, deu um beijo e disse:
- Olha, eu não vou te medir porque acho muito deselegante fazer isso com as mulheres, eu não gosto quando ficam me medindo só porque sou mendigo, só sou diferente, mas olha, você é muito bonita, não preciso te medir para ver isso e já pensou que loucura seria nós dois numa piscina?
- Numa piscina? Hahaha seria refrescante ahahah tenho que ir!

Acenei pra ele que ficou rindo e fui andando, enquanto caminhava, vi uma galera me olhando feio, mas francamente, prefiro nem pensar porque me olharam feio. Gostei de falar com ele e gostei do meu potinho. 

Olha meu potinho que bonito :D







História na pele

Quando passo por momentos marcantes na minha vida, eu me tatuo. Não tinha percebido esse padrão, mas ele existe. Eu fiz uma orquídea, simbolo de feminilidade, quando terminei um namoro longo que me deixou insegura acerca do meu poder de sedução e outras coisas. 

Eu tatuei uma homenagem aos meus gatos mortos quando percebi que por um bom tempo não poderia mais ter gatos. Eu desenhei um coração quando aprendi que demonstrar sentimentos não é sinônimo de fraqueza e para lembrar de manter meu amor próprio. 

Risquei minhas duas coxas com mariposas/borboletas que simbolizam "vida" e "muerte", quando percebi uma complementa a outra, e que é preciso enfrentar os medos, eu tenho medo de mariposas para quem não sabe. A tattoo que simboliza a "vida" foi a que mais doeu, de todas que tenho, foi a mais dolorida, acho isso irônico. A vida dói, mas ela é linda.

Agora eu cheguei num novo momento, tem alguma coisa acontecendo comigo, um processo de conhecimento e aceitação de quem eu sou que parece muito forte, como nunca senti. É bacana, mas requer esforço e coragem, assim como minha próxima tatuagem.

Para muitas pessoas são apenas desenhos, para outras uma forma de chamar atenção, pra mim é parte do meu aprendizado e das mudanças que passei. É marcar minha evolução na pele, é não me deixar esquecer de quem eu sou.




11 de setembro de 2013

É estranho, mas é bom

Minha psicóloga vai embora de São Paulo e eu preciso me acostumar com isto. 

Tenho que me acostumar que não descerei mais toda terça-feira aquela rua que eu gosto, que não vou sentir mais o cheiro de Pinho Sol da casa de portão fechado, que não vou passar pela lavanderia que tem cheiro de roupa passada, que não verei mais os senhores e senhorinhas caminhando com seus cachorrinhos, que não vou ver os gringos chegando no hostel bonitinho, que não vou ver o barbudo ruivo da bicicleta, dono da loja de frozen yogurt.

Tenho que me acostumar que não vou mais ver o cabeludo na janela da escola de música e nem a moça do milho. Não verei também o japonês da venda que não quis me vender uma banana porque ele não vendia unidade, mesmo eu estando com fome.

Tenho que me acostumar que não vou ver mais o Bujão, o gato arrogante e lindo da mercearia.

Tenho que me acostumar que não poderei mais esperar para falar com a Sandra e assim decidir o que faço.

Tenho que me acostumar que tô por mim, que tô sozinha. Tenho que me acostumar que isso deve ser bom, que vai ser bom.

E eu tenho que me preparar para a despedida dela, porque é quase como se parte de mim fosse embora.

Ela é quase um espelho, mas sem muitas distorções, refletiu muito do que sou e muito do que eu não queria ver. É estranho se perceber pelos outros, é estranho perceber que você vai perder essa percepção.

Mas é estranho também perceber que depois de tantas coisas ditas naquela sala com duas poltronas, eu mudei. É estranho a percepção clara da mudança, de olhar para trás e perceber que o que você foi por um período se perdeu.

É estranho, mas no fundo acho que é bom que ela vá, penso que se dependesse de mim eu nunca a deixaria, então, acho que de uma forma singular, é só mais um jeito dela me ajudar, no final, ela fez algo que eu não conseguiria.

Eu acho que vou chorar quando me despedir dela. 

9 de setembro de 2013

Aviso

Só vim aqui para dizer que tô muito bem. Para não acharem que só resmungo sempre, né? Então vim postar que as coisas tão firmeza e espero que continuem assim, mesmo porque, eu tenho conseguido dormir 6 horas por noite, se isto não é indício de coisa boa, francamente não sei o que mais pode ser.

É isso, e não me coloquem uruca, porque eu sou uma pessoa legal, mas vingativa. 

;*


25 de agosto de 2013

When i'm sixty four

Quando eu tinha 15 anos imaginava que chegando aos 30 eu seria uma pessoa equilibrada, madura e tudo aquilo que vi nos filmes da sessão da tarde. Trabalharia, seria realizada profissionalmente, viajaria e saberia lidar com os homens sem grandes traumas.

Precisei fazer 31 para perceber o quanto estive errada aos 15, quer dizer, eu só acertei em trabalhar e ser realizada profissionalmente, pelo menos tô caminhando para isso, mas de resto... 

Gostaria de viajar no tempo apenas para me avisar, lá com 15 anos, que a expectativa realmente é a mãe da merda. Não que seja ruim como eu tô hoje, mas tá longe do que eu esperava.

Só isso, totalmente diferente do que esperava. Agora, como sou dada às expectativas, tô pensando como serei quando estiver 64. 



'cause who will need me?
who will like me?
when i'm sixty four.

15 de agosto de 2013

Um homem tipo Ramones

- Tô cansada.
- Eu também, cansado de tanta merda, de tanta gente estranha.
- É, então, só uns caras complicados, é muita enrolação.
- As pessoas poderiam ser mais simples, mais diretas.
- Tipo Ramones, né?
- Ramones?
- Isso, queria um cara tipo Ramones, bom, simples, sem frescura e divertido.
- Não é muito inteligente ahahaha
- Claro que é! I don't want grow up, Poison heart, Take it as it comes! Só musicão!
- Take it as it comes é do Doors...
- Ai, verdade, mas eles são tão fodas que sacam uma música boa, regravam e não estragam.
- Um cara Ramones deve ser meio roots, não sei não.
- Melhor que um cara Smiths.
- Pra mim aparece uns caras Coldplay, não reclama.
- Hahahah coxinhas.
- Você tá aí falando que quer um cara Ramones, mas você não é uma mina Ramones, você tá mais pra Strokes, parece que é simples, mas se ouvir bem, é fresca, cheia de coisas.
- Porra, o último disco do Strokes é ruim demais, não faz isso comigo, tinha a música lá do Calypso!
- Hahaha não, você é até Room on Fire.
- Putz, Reptilia foi o toque do meu despertador por tanto tempo, quase comecei a odiar a música.
- Viu? Você é Strokes e tem um toque de Smiths, é dramática.
- Que merda, assim eu nunca vou conseguir um cara Ramones.
- Acho que caras Ramones não curtem Strokes com Smiths.
- Que depressão.
- Olha o Smiths aí, segura o drama, foca no Strokes, tem mais chance de enganar.

Vamos lá, foco no Strokes.


Camomila, calmamila

Eu tô achando que tudo é uma grande piada, mas preciso contar. Vamos lá, a coisa deve ser longa, me acompanhe, amigos.

Eu tenho enxaqueca desde os 12 anos, quer dizer, tenho enxaqueca há 19 anos. Bom, eu já fiz de tudo, todos os exames, tomei antidepressivos que me doparam, tomei injeções na veia pelo menos uma vez ao mês, além de todo tipo de remédio que possa imaginar, já passei um dia me drogando tanto que desmaiei, cai da cadeira e bati o rosto, estando de óculos. Enfim, tudo isso para dizer que já tinha aqui comigo consolidado a ideia de que EU TENHO ENXAQUECA. 

Basicamente consegui identificar dois gatilhos das dores: alimentação e nervoso. A solução? Fiz [faço] acompanhamento com nutricionista e reeducação alimentar, com pitada de dieta. Faço terapia, uma forma de buscar o equilíbrio mínimo, não pirar, diminuir ansiedade, me entender e aquela porra toda.

Bom, as dores têm voltado um cadinho, esses dias tive um treco no olho, uma aura e fui no oftalmo, soube que tenho enxaqueca retiniana, porque a vida tem que ter emoção. Ok, não é grave, é só um fenômeno que me deixa com a visão comprometida por uns 30 minutos.

Eu marquei neurologista, fui lá hoje e, olha, eu ainda não consegui entender o que aconteceu.

Primeiro ele disse que eu não tenho enxaqueca coisa nenhuma, que enxaqueca com dores por 3/4 vezes ao mês NON ECZISTE, que normalmente se tem uma crise ao mês, quer dizer, tô explorando a minha enxaqueca, ou o que quer que seja, e fazendo ela trabalhar mais do que deve. 

Depois ele quis saber se eu era ansiosa, disse que sim, que inclusive fazia terapia há 2 anos e que tinha melhorado. A resposta? 

- Eu quero um diagnóstico da sua terapeuta, e não me venha falar que faz aconselhamento, porque se você passa por ela 1 vez por semana, por 2 anos e está assim, tem algo errado. Ou você virou amiga dela e vai lá pra bater papo ou algo muito pior.

Depois disso tudo e eu ficando sem reação e muda, do jeito mais babaca possível, porque eu sou assim, eu tenho reação retardada e só sei o que dizer depois de um tempo, perguntei o que poderia tomar em caso de dor e, senhoras e senhores, a resposta para todos os problemas não é 42, é...

[rufem os tambores]

CAMOMILA!

SIM! CHÁ DE CAMOMILA! ESTA É A SOLUÇÃO DA MINHA VIDA.

Não é a reeducação alimentar, não é terapia, eu só preciso tomar chá de camomila que tudo vai ficar bem, porque, segundo ele, eu tenho um quadro de ansiedade e AGRESSIVIDADE, de onde ele tirou a agressividade eu não sei, porque eu nem bati nele, acho que deveria, mas apenas fiquei tão chocada que me limitei a fazer cara de paspalha a consulta toda. [usar casaco vermelho e bolsa de caveira mostra agressividade? Só se for isso]

Duas ironias:
- eu odeio chá de camomila.
no parquinho as professoras me chamavam de "camomila" porque eu era calminha e eu ODIAVA ser chamada assim. 

Bom, eu saí de lá com uma receita para comprar 1kg de camomila, mas de feira, porque de saquinho não pode, e com minha confiança meio bêbada, porque um médico falou em tom irônico que eu faço terapia há 2 anos e continuo "assim". Tô ainda pensando o que é "assim".


13 de agosto de 2013

Eu minto

Você me pergunta se eu tô bem e sabe o que eu faço?

Eu minto. Assim, simples. Sem drama. Eu apenas digo que sim, que tá tudo bem, porque quando te disse que não estava, você não quis saber o motivo, apenas falou para tomar uma cerveja que melhorava, mas sabe, eu não bebo cerveja. 





Não foi sem querer ;)

7 de agosto de 2013

Uma pausa

Três pessoas notaram surpresas que eu não pintei as unhas, para as três eu disse a mesma coisa "é, não pintei e nem vou, pelo menos por essa semana". A pausa é simbólica, eu entendi o que eu fiz, tornei a pausa visível, pelo menos pra mim e tá assim, tô aceitando a pausa. Tô aceitando a dificuldade que eu sei que vou lidar. 

Eu já estruturei tudo, até escrevi o que preciso falar, na verdade eu não vou falar pessoalmente, eu não sou forte assim, mas eu vou comunicar de alguma forma a decisão da minha pausa e, com sorte, da ruptura.

Eu chorei muito hoje na terapia, chorei e ri, chorei e me culpei, chorei e resolvi desatar. Ela me perguntou porque ainda não tinha feito, respondi que queria falar com ela antes, momentos assim me dão insegurança e, controladora que sou, preciso saber de algumas variáveis. Agora eu sei.

Num dos momentos do choro, eu me culpei. Me culpei por ter entrado conscientemente numa situação que me faz mal e percebi que a minha dificuldade em sair, está no fato de que saindo, admito que errei, que fiz uma má escolha, mas a verdade mesmo é que eu eu demorei a entender que não preciso ficar para sempre numa situação só porque inicialmente achei que dava conta. Desculpa, não dou e vou sair.

Queria ser mais madura e menos covarde, porque por alguns momentos, penso como seria lindo se tudo simplesmente desaparecesse, tudo acabasse sem que eu precisasse me expor, sem precisar escancarar umas feridas que achei que estavam todas já com cascas. Já experimentou arrancar casca já bem seca de uma ferida? Então, deixa marca.

Uma pausa e, quem sabe, um pouco de sorte.

5 de agosto de 2013

Não fiz as unhas e tá tudo tão estranho

Eu não pintei minhas unhas. Pode parecer fútil, mas é sempre grave quando isso acontece, eu não deixei de pintar porque estava fazendo algo sensacional e não deu tempo. Foi simplesmente porque eu não quis, um não querer de pouco importar, de indiferença, como se qualquer coisa não fosse resultar em nada mesmo.

Eu não pintei as unhas e nem quero, nem hoje, nem amanhã. Eu passei o dia sentindo como se eu tivesse de ressaca e, embora eu tenha saído a noite passada, eu só tomei água e uma coca zero. Eu não sei porque me sinto como se tivesse de ressaca.

Foi uma noite estranha, eu nem bebi, e eu acho que deveria estar alegre, mas não. Daí hoje não fiz as unhas e tinha um freela para entregar e eu que sempre preciso encher linguiça nos meus textos, inclusive de trabalho, porque costumo ser sucinta demais, ultrapassei o limite solicitado de caracteres.

Noite passada estava quente na festa onde eu estava, então por umas duas vezes eu sai da pista, fiquei sozinha encostada num canto, tomando um ar. Nesse meio tempo, acho que uns 5 ou 6 caras vieram falar comigo. Praticamente todos falaram a mesma coisa, queriam saber porque eu estava sozinha e se eu estava bem, que eu era muito bonita para estar sozinha e sabe, eu estava bem, só estava lá, na minha, mas parece que mulher não pode ficar sozinha. Uma mulher sozinha é uma coisa triste.

Será que eu fui manipulada e tô acreditando nisso? Que eu sou triste por estar sozinha? Tá tudo tão estranho e mais estranho ainda é que queria escrever pra você, coisa que não faço tem um bom tempo, mas você nunca iria ler isso aqui mesmo.

31 de julho de 2013

Que você seja Plutão

Eu tenho a sensação de que algumas pessoas sempre estarão na minha vida e não falo de forma positiva, mas de um jeito estranho, meio que gravitacionando ali, rondando, mas não realmente perto.

Quase um Saturno que, de tempos em tempos, entra na vida, fode com tudo e passa. Meu desejo mesmo é que essas pessoas deixem a condição de Saturno, quero colocá-las, pelo menos, na condição de Plutão. 

Acho que dá, né?

28 de julho de 2013

Eu, meu celular e o samba da benção

Escreve, reescreve, arruma, não, pera, serei mais sútil, pronto, agora sim tá boa. 

- Vou enviar. 
- Ah, mas pra quê?
- Porque eu quero, ué.
- Você já se fodeu bastante assim, lembra?
- Mas eu tô meio entediada, pelo menos daria um movimento.
- Eu acho melhor você ficar quieta.
- Mas tá tudo tão chato...
- Melhor chato do que triste.
- Mas... será? 
- Será que você se tornou essas pessoas que preferem a tristeza do que marasmo?

Será? 
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Daí numa resposta automática veio o Samba da Benção na minha cabeça. Ok, vence a alegria.

Acho.

Pelo menos por enquanto.

Mas eu tô entediada, viu? 

Muito entediada. 

Mas eu tô bem, não sei se alegre, mas bem.

Ai, ai...

18 de julho de 2013

Formigas, um ferro de passar e uma confissão

Ainda criança tinha alergia à picada de insetos, ficava cheia de bolinhas pelo corpo e naturalmente desenvolvi uma certa raiva deles. Não de todos, eu gostava muito de besouros e borboletas mas as formigas...ah as formigas, eu realmente as odiava.

Levava para escolinha 3 potinhos, daqueles de guardar filme fotográfico, e na hora do recreio, quando ia brincar no parquinho, eu colocava um monte de formigas num potinho e sacudia, sacudia e sacudia, perceberam a raiva, né? Em outro potinho eu colocava os besouros e no outro as borboletinhas. Chegava em casa com os potinhos e cumpria meu ritual.

Soltava os besouros e borboletas pela casa [oi, mãe! valeu pela paciência] ficava ali observando eles, felizona! Sinônimo de diversão um besouro andando pela mão, pelo braço e finalmente voando meio desengonçado. Achava, e ainda acho, bonitinhos, gordinhos, graciosos.

Passada a diversão, vinha o trabalho e a pior parte, além do sacode com as pobres formigas, na lavanderia, eu estendia um pano branco em cima da mesa de passar roupa, ligava o ferro e soltava as formigas, uma a uma. 

Daí ficava lá, olhando a formiguinha na imensidão branca andando, perdida, daí eu queimava a bunda dela e ficava vendo ela rastejando, meio corpo pelo pano branco e pensava que ela nunca mais me picaria de novo e depois finalmente a matava.

Eu tinha me esquecido disso, mas achei num dos meus tantos textos escritos e sabe, hoje não me conformo como pude ser tão cruel. Desculpa, mundo :(

Dá-lhe terapia pra mim. 


7 de julho de 2013

Mulher difícil

Ele pediu um gole da minha cerveja, eu dei e ele disse que me pagaria outra, agradeci e respondi "não bebo cerveja". Ele achou que era piada, mas não era, eu não bebo cerveja, estava tomando apenas porque era o que se conseguia com mais rapidez do bar, rimos e ele foi embora.

Reapareceu, disse que me pagaria uma cerveja, eu recusei, me chamou para dançar com ele na pista, fui com ele me pegando pela mão, chegando lá, falou no meu ouvido "meu nome é Rafael, quero te conhecer melhor, qual seu nome?", respondi e ele perguntou se podia me chamar de Ca, "não gosto que me chame assim, prefiro Milla", ele sorriu e disse "gostei de você".

Mais uma vez ele pediu para me pagar uma cerveja, mais uma vez eu neguei, ele disse que pagaria qualquer outra bebida então, agradeci e disse que não precisava, ele sorriu, me chamou de difícil e disse que gostava de mulheres assim, que não aceitam nada de ninguém e falou que não ofereceria mais, caso eu mudasse de ideia, era só falar.

Difícil, fui chamada por um total desconhecido de mulher difícil e que não aceita nada de ninguém e até agora eu não sei o que fazer com isso, tô aqui pensando se é elogio ou crítica e também tô sem entender como eu passei essa imagem apenas negando uma cerveja, especificamente uma Itaipava.


2 de julho de 2013

Preguiça

Odeio dizer que tenho preguiça das pessoas, sempre me parece leviano, sempre me parece dramático e sem necessidade, não gosto. Mas a verdade é que não consigo achar um termo que se encaixe melhor para esses dias.

Tudo isso porque tenho a sensação de que virei uma imensa curva de rio, tudo o que é tralha para por aqui e atrapalha o fluxo das águas. Eu quero achar que é mera coincidência a incidência de babaca por vida quadrada, mas sempre fica uma pontinha, uma centelha aqui de incerteza falando baixinho: "deve ser culpa minha, eu passo algo que atrai gente assim, eu chamo situações destrutivas".

É tanta incidência por esses dias que tô me repetindo, tô revendo assunto antes resolvido, tinha dado como certo que o problema não era eu, mas voltei a achar que é. Preguiça das pessoas, inclusive de mim.

Saudação aos envolvidos.



1 de julho de 2013

Silêncio

Eu gosto dos clichês da vida, gosto dos ditados e particularmente acredito que o silêncio diz muito. Tem gente que quando cala, na verdade grita e manda pra bem longe quem não quer perto de si, é meu caso. Tem o silêncio que é indiferença, também é meu caso, mas tem também o silêncio que secretamente deseja algo, também meu caso.

Quem me machuca, quero que sofra igualmente ou que pelo menos bata o dedinho do pé na quina da cama.

Quem me ignora, desejo que me queira quando eu não mais quiser ou que no café da manhã, o pão caia com a margarina virada pra baixo.

Quem me engana, desejo que sofra desenganos ou que fique 1h30 na fila do banco e quando chegar sua vez, o caixa feche.

*Texto originalmente escrito em 23/02/2010 e encontrado nos meus rascunhos, não consigo me recordar para quem ou o que desencadeou, mas gostei de ver que não sou tão amável quanto gostam de acreditar, afinal, todo mundo tem sua dualidade :)

28 de junho de 2013

Custo/malefício

Por muito tempo, em diversas situações eu fiz a fina, fiz a madura e no meio dessa babaquice minha, as frases mais ditas foram "tudo bem, eu entendo" e "não tem problema." Obviamente que eu não entendia porra nenhuma e tinha problema sim, mas sempre tive medo, ainda tenho, de ser considera a louca, a maluca, a desequilibrada. Mas sabe o que tempo me ensinou? Que não preciso ser madura o tempo todo, que não vale o esforço. Ousaria dizer que por quase todas vezes que eu passei por cima de algo que sentia, somente por medo de ser mal entendida, mal vista e derivados, não valeu a pena. Pouquíssimas pessoas valem o custo/malefício, aprendi tarde, mas aprendi.



10 de junho de 2013

S a u d a d e

Eu acordei com um misto de saudosismo e melancolia, lembrei de quanto eu tinha 15 anos, do meu primeiro emprego numa videolocadora, de passar as tardes ouvindo a trilha sonora do "Singles" e de trocar os cartazes dos filmes com o Robson e com o Renato, dois rapazes que trabalhavam na loja ao lado da locadora. Foi ali que descobri meu primeiro flerte, me sinto idosa falando assim, mas foi. Com o Renato tive uma sensação estranha num dia que ele chegou perto demais de mim e eu não soube o que era aquilo, hoje eu sei, era tesão.

O Robson um menino de olhos verdes, sardento, lindo e palmeirense [sina com o Palestra], me irritava de alguma forma, mas passava as tardes me fazendo companhia, um dia ele me disse pelo messenger que queria falar comigo, eu disse "fala" e ele "amanhã eu falo" e eu "você quer falar que gosta de mim, não é isso?" e ele "é...". Eu ri, gente, eu apenas ri e não soube o que dizer. Hoje jamais faria isso, sobretudo porque eu não ri da cara dele, eu ri da minha, porque embora eu sentisse o interesse dele por mim, eu achava impossível atrair alguém. 

A história se repetiu com meu primeiro namorado do colégio, o Beto. No grupo de amigos tinham meninas lindas, meninas bem mais "crescidas" do que eu, muito mais "femininas", digamos. E o meu susto foi absurdo quando eu soube que ele queria ficar comigo. Foi um tropeço sem tamanho e ele me deu presente, foi na minha casa e a gente acabou indo para um show do Charlie Brown Jr [ai, passado que condena] e dos Paralamas do Sucesso, lá no Riacho Grande e na volta pegamos a maior chuva, mas voltamos o caminho todo de mãos dadas e nos beijamos. A coisa foi indo e eu pensava comigo se aquilo era alguma pegadinha, algo no estilo "Carrie, a Estranha", pensava se ele não estava comigo, sei lá, por uma aposta, qualquer coisa do gênero e achava que a qualquer momento tudo aquilo iria se mostrar como uma piada, mas isso nunca aconteceu.

Eu acordei com muita saudade dessa época e vim o caminho todo do trabalho pensando nisso e em como eu gostaria de voltar no tempo, de rever o Robson, eu queria até procurar por ele, mas não lembro o sobrenome, uma pena. E no meio disso tudo, pensei, será que temos vontade de voltar para o passado quando o presente não está bom o suficiente? Emocionante o suficiente? Será que é uma forma de covardia? Recorrer à uma lembrança segura que já sabemos como começou e terminou?

E eu também pensei no quanto a minha insegurança é antiga, porque desde muito nova eu nunca vi poder de atração em mim, isso foi algo que eu descobri bem tardiamente, mesmo porque, até os 15 anos eu só queria saber dos discos do Maiden, de comprar Rock Brigade e de ler. Eu ainda estou aqui pensando em tanta coisa, mas tanta coisa que sinto um misto de vontade de rir e de chorar. Saudade machuca sim.


E se é para doer, a gente faz com maestria e escuta a trilha daquelas tardes :)





26 de maio de 2013

Someday you will be loved

Faz um tempo, eu sofri pra caralho por um término de relacionamento, aquela coisa toda, aquele drama de perder o chão, o foco e um pouco da vida.

Em um dos dias que eu chorava com uma amiga pelo msn [sim, msn] ela me mandou uma música, dizendo para ouvir e acreditar nela.

Eu ouvi, eu não acreditei e eu só chorei. Mas chorei compulsivamente, aquele choro com soluço que machuca o peito. Aquele choro de uma vida inteira, por todas as merdas da vida, aquele choro acumulado. 

Como muitas pessoas, eu tenho memória músical associativa e por isso evitei a música até hoje. Tive vontade de escutar, assim, do nada. Bom, a música é realmente linda e sabe o melhor? Apenas me fez sorrir, não sofri mais nem um pouquinho por ela.

Uhuu, yey! Dancinha da vitória o/


I cannot pretend that I felt any regret
Cause each broken heart will eventually mend
As the blood runs red down the needle and thread
Someday you will be loved

20 de maio de 2013

A bola da resignação


Eu vou ter que gastar com algo que não tinha planejado, um gasto que foge totalmente dos meus planos e que vai me desestruturar além do que queria. Minha primeira reação foi querer chorar, a segunda foi querer chorar mais ainda, a terceira foi chegar em casa emburrada, como se fosse culpa de alguém e deitar na cama chorando baixinho, sem jantar, sem fazer nada, apenas dormir, quem sabe a coisa se resolvesse sozinha.

Daí eu acordei e tava tudo igual, então a quinta reação foi ligar na Central do serviço que eu pago e que me fodeu, liguei para tentar entender porque eu tenho que pagar por algo que jurava estar incluso. Entendi.

A sexta reação ainda foi querer chorar, a sétima foi abrir minha planilha de gastos mensais e ter uma real ideia do quanto eu vou me foder. A sétima reação, a mais madura, foi a de perceber que não tenho saída. Que não importa o quanto eu choramingue, o quanto eu me jogue na cama de maneira dramática, o quanto eu sofra, nada vai mudar. Não tem quem vá resolver por mim, não tem quem vá pagar por mim. Tem apenas a primeira pessoa do singular.

A oitava reação foi perceber que a idade chega para todo mundo, mas a maturidade, essa daí só chega quando você aprende a se resignar perante umas merdas. É a vida falando "te vira e se segura, a bola tá contigo, porque aqui não morreu e, se for para morrer aí, que seja com você matando".

Okay, vamos lá aceitando e matando problemas. Boa sorte, certo? Então tá.


15 de maio de 2013

Diálogo de um telefone errado

Liguei para um telefone errado, mas fiquei conversando com a senhora que atendeu por 10 minutos, tudo isso porque pedi para confirmar o número do telefone.

A senhora que atendeu me disse que o marido tinha saído para ir na casa lotérica, ele sabia o número, mas ela não, porque ela nunca ligava mesmo pra lá. Daí a conversa foi assim:

- Menina, me fala o número que você ligou, eu vou anotar aqui, porque deve ser o meu número, né?
Eu rindo, passei o número pra ela.
- Ô, minha santa, a caneta não pega, tá igual eu, minha filha [gargalhando risada de vovó, meio que hihihi], vou pegar outra, você espera?
- Espero sim, senhora. Pode ir.
- Não menina, não me chama de senhora só porque eu disse que tô igual caneta velha, meu nome é Marta.
- [rindo] tudo bem, Marta, vai lá que eu espero.
Ela voltou:
- Pronto, diga o número:
- É xxxx- xxxx.
- Ai que bom, qual seu nome mesmo? 
- Milla.
- Milla? Mas só isso? Isso tem jeito de apelido.
- É apelido sim, é Camila.
- Ah, bom. Então sabe, Camila, eu pensei aqui na hora que falei do meu marido que é bom eu saber o número, né? Não é porque tô velha que tenho que depender dele pra tudo, acho feio mulher que não se vira sozinha... não, não, falei errado, acho feio gente que não se vira sozinha. Quer dizer, é bom ter alguém, você tem alguém?
- Namorado?
- Pode ser, mas não precisa ser. Só ter alguém mesmo pra acudir quando a coisa pega fogo.
- Ah, tenho sim. 
- Amigos?
- É, tenho alguns.
- Faz bem, porque marido pode ter validade, esse amor pode estragar, mas de amigo não estraga, os meus não estragaram. Tenho amigas que tão tudo canetas velhas como eu, mas tão comigo.
- [Eu rindo de novo] Poxa, Marta, que bom, tomara que eu tenha sua sorte.
- Vai ter, vai ter... olha que bom que você me ligou, Camila. Agora eu tenho meu próprio número, [gargalhando] parece mentira, né? Moro aqui tem quase 40 anos e não sei meu telefone, quer dizer, não sabia. Bom, se você tentar ligar de novo e eu atender, a gente conversa mais, vai trabalhar, menina.
- Boa tarde, Marta! 
- Eu vou ter, vou fazer bolo.
Eu ri, e desliguei.

Impossível não ter uma boa tarde quando se tem bolo, né?

*Tô tentada a guardar o telefone da Marta e ligar outro dia para papear, quem sabe não ganho convite para um bolo hihhi.

30 de abril de 2013

O dia que pensei demais

Eu vou fazer 32 anos e não tenho porra nenhuma, não tenho uma vida construída, não tenho algo concreto e nem num longo prazo devo ter. Não tenho carro, imóvel e nem um parceiro para fingir que tô construindo a vida ao lado de alguém ou para me acomodar.

Eu não tenho um gato, cachorro, filho, papagaio para me ocupar. Eu não jogo bola, não toco violão, não tenho uma paixão por tricotar, eu acho que não tenho nada mesmo. Eu queria ter um hobby, mas eu odeio essa palavra, acho que queria ter um passatempo, algo que me desligasse de quem sou, da rotina. Mas eu não tenho nada. Mentira, eu tenho um computador, um celular, livros, livros, dvd's, dvd's, discos, roupas e sapatos. Ah, tenho bolsas também e tatuagens. É isso.

E eu passei o dia pensando no que eu não tenho e pensei também em como eu me fecho, na facilidade gigante que eu tenho de fingir que me basto e pensei também na segurança que nem sempre tenho e, como muitas vezes eu prefiro ser invisível. Prefiro que não me vejam, que não me notem, mas acho que isso é mentira também, porque dizem que no fundo todo mundo quer ser notado, ser importante e amado e fico em dúvida se minha postura não grita isso, digo, as tatuagens a mostra talvez digam isso, talvez. Embora eu realmente gosto delas, e gosto de olhar para todas elas, é orgulho que sinto.

E daí que quando desci do ônibus a caminho da terapia, mais uma vez eu tirei meus fones, tirei porque finalmente acreditei que ele me isola, assim como os livros, como as revistas, como a minha miopia, são fatores que me isolam das pessoas e eu normalmente gosto disso, mas resolvi que não é legal ser assim, porque quando eu ficar velha, coisa que já tô ficando, e isolada, manter 50 gatos numa velhice deve ser algo complicado e nem falo em marido, mas amigos, que amigos vão me ajudar se eu me tornar uma pessoa sozinha e com 50 gatos? Acho que nenhum.

Pensei também que quando ando na rua quase sempre olho para o chão, eu desvio o olhar das pessoas, eu preciso mudar isso também, andar sem fone e olhando as pessoas, simbolicamente eu preciso reaprender a andar, olha só. 

Eu não tenho nada e só trabalho, é isso. Eu trabalho, durmo, pago contas, trabalho. Ah, eu reclamo também, porque eu sou uma pessoa mediana, então preciso reclamar. Eu também escuto trechos de músicas e me identifico, quer ver?

Giz, Legião Urbana

"Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero"

Prazer, assim sou eu, só quando quero, porque sou egoísta.

"Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto,
Só um pouquinho infeliz..."

Eu lembro de muitas coisas, coisas que machucam, mas que me faz forte e um pouco infeliz, nada grave.

Perdendo dentes, Pato Fu

"As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi

Estas sim
Eu nunca esqueci"
Porque meu maior potencial é ressaltar e valorizar perdas, danos e cagadas no decorrer da vida.

Lá vou eu, Zélia Duncan

"Num apartamento perdido na cidade,
Alguém está tentando acreditar
Que as coisas vão melhorar ultimamente.
A gente não consegue
Ficar indiferente debaixo desse céu"

Substitui apartamento por sobrado.

Você vai me destruir, Vanessa da Mata

"Você vai me destruir
Como uma faca cortando as etapas
Furando ao redor
Me indignando, me enchendo de tédio
Roubando o meu ar
Me deixa só e depois não consegue
Não me satisfaz"

Porque ultimamente é assim, uma pequena destruição seguida de insatisfação.

Tem a recomposição futura, mas daí não cabe na letra e nem no texto, porque hoje só servimos pessimismo.