22 de julho de 2012

Interior das lembranças - Parte 2

A viagem foi boa, esclarecedora, eu diria. Minha vó está com 92 anos e ela chorou de emoção ao ver eu e minha irmã chegando, eu só conseguia sorrir. Embora ela esteja doente, foi bonito ver uma senhora com essa idade sendo matriarca com tanta força. É lindo ver o respeito que todos têm por ela e o poder que ela exerce.

Mas, por outro lado, pode ser complicado reviver algumas lembranças e o receio que eu estava da viagem, acabou sendo fundamentado e me fez perceber bem claramente o motivo do meu afastamento da minha família.

É a frequente sensação de inadequação, de que tem algo muito errado comigo porque não me porto como eles, não sou uma pessoa de sorriso fácil, não sou do tipo que abraça todo mundo, que faz carinho, que diz que adora. Nas bastasse a sensação de não pertencimento, tem a comparação com minha irmã. Claro que eu não atribuo nada disso a ela, se nos comparam, não é por culpa dela, eu bem sei. Mas fato é que não sei lidar, me magoa sempre ser alguém "diferente" num tom pejorativo e isso acontece desde a infância e, com família, como nos conhecem desde feto, parece que comparar é algo instintivo, não sei bem, mas é quase crueldade ao meu olhar:

- Ela é tão sorridente, tão linda! Já a Milla... ela é diferente, né?

Podem chamar de imaturidade, talvez seja mesmo, mas eu cansei de ser "diferente", cansei de me sentir errada e inadequada na família. Às vezes não há solução melhor que a distância, nem que seja por um tempo. Eu fiquei 10 anos sem ir até lá e só hoje percebi o motivo.

"O lado bom das lembranças ruins é que elas são só lembranças. Quando elas chegam, é só pensar em outra coisa, ou tratar de fazer algo de bom pra ter melhores lembranças depois." foram as palavras da Aline Costa, e bem, acho que estou no caminho certo, acho que venho fazendo por onde ter melhores lembranças.

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