18 de dezembro de 2009

hoje

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no banheiro deixou a imagem no espelho

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se despiu e fez dos olhos um chuveiro

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às vezes sangue, noutras água e a dor se diluiu por inteiro
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7 de dezembro de 2009

O que ficou

Eu queria escrever sobre algo engraçado, divertido, pensei em um conto, mas sei que vou acabar escrevendo um artigo, um texto mega pessoal, então resolvi deixar na primeira pessoa mesmo, afinal sou eu quem escrevo, né? Porque usar a terceira pessoa impessoal do Jornalismo aqui? Então hoje é pessoal. Escancarado mesmo. E como estou inconstante, acabei de mudar o tema do texto, que será uma retrospectiva do meu ano. Pronto, resolvido.

Eu percebi que eu tenho ótimas lembranças desse ano e que muitas coisas que antes não me faziam rir, hoje me dão cócegas. Exemplo? Eu era muito mal humorada, não conseguia ver humor na desgraça [tudo bem que é preciso atingir um alto nível para chegar nesse ponto, mas hoje estou nele]. Sim! Eu ando rindo, uma desgraça de riso. Às vezes é um sorriso torto, muitas vezes é descontrolado, mas eu consigo rir de muita merda. O motivo? Autopreservação, porque aconteceram merdas homéricas, daquelas dignas da novela, sabe? Teve pessoas com nome composto, teve loira, gente falsa, intrigas, choro, arrependimento e superação. Sem a parte do glamour, Manoel Carlos passou pela minha vida esse ano, acho que é isso. Há quem diga que rir demais é ruim e, de certo ponto, concordo. Quem muito ri, acaba chorando no final. É verdade.

Eu desisti de achar sentido em algumas coisas e então eu simplesmente acabo chorando ou gargalhando. Estou em pontos extremos ultimamente. Dificilmente estive serena ou equilibrada nesse ano. Esse foi o ano do meu desequilíbrio. Eu precisei cair da corda para me encontrar lá embaixo e percebi que muito de quem eu era, eu deixei cair, fui me desfazendo de algumas características minhas, não sei se pelo andamento de tudo ou por um incentivo estranho de algumas pessoas, não importa muito, porque a culpa de ter me jogado aos poucos, foi minha. Sim, essa culpa é minha.

Mas hoje, quase uma balzaca [ando com orgulho da minha idade mediante tanta gente babaca que tenho encontrado], e depois de passar um ano tenso, eu mudei muito. Aprendi coisas horrorosas nesse 2009 e outras coisas boas que levarei para sempre.Uma delas é que agora acho engraçado o medo que eu tinha de beber. Sim, eu era travada e quase não bebia nada alcoólico. Não sei se por receio de um histórico familiar ou se por puro medo meu de perder o controle, mas adivinha só? Perder o controle é muito bom. É sim!

Eu já me perdi em algumas noites, agarrei uns postes, falei alto, fiquei tonta, fiz umas merdas, dancei fora do compasso, fiquei descabelada, misturei fermentado com destilado, mas ainda não vomitei. Não regurgitei aquilo tudo que me fez mal, mas tudo ao seu tempo. Ainda é preciso mandar mais para dentro, para depois soltar tudo, acho que é assim que funciona.

Pela primeira vez, em tantos anos, eu sei que virão mais mudanças e claro que me assusto. Eu não sou fã de mudanças, elas quase me paralisam. Falta sinceridade naquele que afirma que adora mudanças. Isso é desculpa de funcionário que finge ficar feliz quando vai para um setor desconhecido. Mudar? Só se for o salário, para maior. Não gostamos de mudança. Se fosse assim não choraríamos quando fomos expulsos do confortável ventre materno. Ainda hoje desconfio que lá deva ser mais confortável do que aqui, mas é um caminho sem volta.

Bom, sendo assim entre gargalhadas, tropeços, choros descontrolados, bebedeiras, eu gritando, ofendendo, xingando, odiando, amando, duvidando, querendo mal, querendo bem, querendo sumir, querendo morrer, querendo viver, não querendo nada, esquecendo tudo, lembrando das dores, ignorando as dores, abrindo e fechando feridas, com o cabelo bonito, descabelada, unha feita, vida desfeita, sabe para que serviu? Para que eu percebesse que eu sou, mas não uma. Eu sou um coletivo de pessoas. Pessoas que eu aprendi a amar e que me seguraram esse ano inteiro, por toda vez que cai.

Há algum tempo eu escrevi um texto que era baseado em um personagem do livro “O Lobo da Estepe” as palavras surgiram por identificação ao ser lupino da obra, mas hoje eu vejo outro sentido na frase “Todo homem é uno quanto ao corpo, mas não quanto à alma”, porque é isso, minha alma é definitivamente plural. Eu sou um coletivo de quem eu amo.





[ Fiquei clichê e mimimi, mas não se preocupem, não vou desejar Feliz Natal para ninguém ;) ]

1 de dezembro de 2009

for you

- Preciso conversar com você – disse com os olhos baixos.

Ela sabia que viria merda, porque quando alguém tem algo de bom a dizer simplesmente diz, mas quando é algo ruim, sempre vem um aviso antes. Um “senta um pouco” ou um “espero que me entenda” as pessoas tem dessas incoerências, pedirem para você ficar calma e sentada quando uma bomba vai cair no seu colo, enfim. Ela foi incoerente e sentou e, da maneira mais imbecil, tentou entender, mas não conseguiu, é claro.

- Eu não sei mais o que eu quero, não sei mais se te amo, quer dizer, eu gosto de você, mas você não corresponde mais às minhas expectativas, sabe? Eu estou confuso, entende?

Como assim? Como ela não correspondia? O que ele queria? Quem ele achava que era? Muitas informações para assimilar e de repente lembrou que em 1 hora teria que ir buscar o bolo do seu aniversário e tudo o que pode dizer foi:

- E você chegou a essa conclusão no dia do meu aniversário?

- Não, eu já venho pensando nisso tem um tempo, mas nunca achava o momento ideal para contar.

-E pelo visto continuou sem achar! Como você pode ser tão cruel assim?

Ela sentia que deveria ficar muito triste, muito mesmo, mas naquele momento ela só sentia raiva dele, vontade de bater, gritar e xingar ele de filho da puta, cretino e babaca. Se ele estava infeliz há um tempo que ficasse mais um dia. Mas ela controlou a raiva e disse:

- Podemos tentar fazer dar certo. Eu acredito em nós. Juntos podemos tentar arrumar o que está errado – ela disse em uma tentativa desesperada, sem nem mesmo entender qual era o erro.

Mas ele não se comoveu em nada e teve a frieza que ela devia ter.

- Não existe mais nós. Só existe eu e tem você do outro lado, apenas isso. Você fez eu me sentir no inferno nesses últimos meses. Você não me deu carinho suficiente, não me amou como eu merecia. Você me fez muito mal.

Ela se levantou da cadeira, andou até a janela e percebeu que estava ficando mais velha, sem namorado e tinha um bolo na confeitaria a sua espera para comemorar o fato dela ser a personificação do capeta em Terra, ótimo.

- Você está apaixonado por alguém?

- Acho que não tem nada a ver falar disso.

Ah a resposta típica de quem não admite e nem nega. Um jeito covarde de se ausentar, por não ter a hombridade de falar a verdade.

- Sua resposta já diz muito. Então é isso? Está terminando comigo? E dizendo que a culpa de tudo foi minha?

- Eu não sei se quero terminar com você, mas não tenho mais certeza se quero ficar com você. Queria que você me entendesse.

Naquele momento toda a raiva voltou. O que fazia uma pessoa ter uma conversa nesse nível e depois voltar e dizer que não tem certeza? E o pior, pedir compreensão? Como entender que a síntese de cinco anos era que ela era uma pessoa incapaz de fazer alguém feliz?

- Você quer que eu te entenda? Você chega no dia do meu aniversário e diz que não sabe mais se me ama, que não sabe se quer ficar comigo e quer que eu entenda? Você não me diz motivos concretos, diz apenas que não fui carinhosa o suficiente, o que é o suficiente para você?

- Eu te dei presentes, eu te fazia carinho, fazia massagem, eu vestia lingeries para você, eu topava praticamente tudo em sexo, tolerei todos seus amigos babacas sorrindo, suportei a sua família imbecil, ignorei você ser um egoísta por te amar, fiz vista grossa para um monte de defeitos seus e você acha que EU não correspondo às suas expectativas?

- É isso que estou falando, tá vendo? Você é muito ríspida, não tem muita doçura em você, sabe?

Naquele momento ela queria muito, mas muito mesmo estar com o bolo de aniversário, porque com certeza jogaria na cara daquele filho da puta e mostraria pra ele o que era doçura.

- Não! Eu não sei! Se quisesse alguém com tanta doçura você devia continuar namorando as garotas babacas do colégio que devem ter o mesmo intelecto que o seu! Some daqui! Vai embora!

- Essa sua atitude só vai colaborar para você me perder mais...

- Perder? Você é maluco! Quem está perdendo é você sabe por quê? Porque você vai me perder e com o passar do tempo, você vai se lembrar de como eu me encostava em você na cama, como te fazia cafuné para dormir, vai lembrar do quanto eu gostava de transar com você e como eu fazia você se sentir bem. Quando você estiver procurando as minhas qualidades em outras garotas que não tem nada de mim, você vai lembrar do quanto te apoiei em tudo, em como eu torci por você, de todas as vezes que chorei de alegria por você e como era quando eu corria ao seu encontro e nos beijávamos.

- Você vai lembrar que só eu sabia certas coisas suas, e que só comigo você podia ser você mesmo. Você terá saudade, inclusive das nossas discussões, quando encontrar alguém que não se dá nem ao trabalho de argumentar com você e todo dia quando você acordar e se olhar no espelho, você vai se lembrar que você é quem é, graças a mim, que eu fui essencial para você ser você. Você não vai apenas me perder, você vai se perder. Boa sorte.

E mandou ele embora, com os olhos meio úmidos e o coração como se fosse uma folha seca, prestes a rachar, mas não aconteceu e hoje ela entende que aquele foi um Feliz Aniversário.